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É apenas “gordinho e fofo” ou será obesidade? Do nascimento à idade adulta

publicado em 04 Abr. 2024

A prevalência do excesso de peso e da obesidade teve um grande e rápido crescimento ao longo das últimas décadas e tem sido descrita como uma “epidemia global” desde a infância à idade adulta.

 

A obesidade e o excesso de peso são condições nas quais o peso da pessoa pode colocar em risco a sua saúde física e psicológica. Pelo que a maior parte destas têm uma maior probabilidade de sofrer um conjunto de doenças crónicas que limitam e colocam em causa a sua qualidade de vida.

 

Muito se tem falado sobre o excesso de peso durante a infância e em particular dos problemas psicológicos na obesidade infantil. Neste sentido, está na hora de afirmarmos as nossas práticas na prevenção da obesidade infantil que deverá começar antes mesmo do nascimento da criança. Isso é possível através de um acompanhamento pré-natal adequado e, posteriormente, após o nascimento, assegurar um acompanhamento frequente na Pediatria avaliando sempre a melhor opção de acordo com as possibilidades de aleitamento ou introdução alimentar.

Fatores de risco

Um dos fatores importantíssimos para o desenvolvimento da Obesidade Infantil está associado aos maus hábitos familiares, nomeadamente a nível alimentar. Logo, através da ingestão alimentar inadequada nos primeiros anos de vida, faz com que as crianças aprendam estes hábitos irregulares, provocando um aumento descontrolado no peso. Além destas situações também outros fatores podem estar na base, tais como: problemas hormonais, relações familiares desajustadas, problemas genéticos, problemas psicológicos, fatores ambientais ou outros problemas de saúde.

 

De facto, uma alimentação desequilibrada associada ao sedentarismo e à reduzida prática de exercício físico, contribuem significativamente para os elevados níveis de obesidade infantil em Portugal. Pelo que os pais de hoje e amanhã deverão começar logo desde o nascimento, dos primeiros passos da criança a promover e incentivar a brincadeiras, atividades e exercícios recreativos que a façam movimentar constantemente.

Consequências e Impacto Psicológico

Além dos problemas de saúde graves, geralmente existem problemas psicológicos na obesidade infantil, com consequências diretas na sua autoestima e, consequentemente levará a uma quebra no seu rendimento escolar e problemas relacionais com os seus pares.

 

Na ótica da psicologia são inúmeros os problemas emocionais, comportamentais e de socialização que se encontra associadas á obesidade infantil e ao excesso de peso. Por exemplo, o preconceito de que as pessoas obesas são preguiçosas e não têm força de vontade, conduz à sua discriminação, resultando em sofrimento psicológico e alienação social, interpessoal, educacional e/ou profissional. E mesmo em crianças esta discriminação é visível quer por parte dos adultos (que julgam os pais e as crianças obesas) bem como por parte dos seus pares através de comentários e situações bullying. Estas situações resultam numa grande vulnerabilidade psicológica através de uma autoperceção negativa, baixa autoestima, inseguranças, problemas sociais e interpessoais, diminuição do desempenho escolar e desenvolvimento de psicopatologias.

 

Atualmente a grande maioria das crianças sinalizadas como obesas e com excesso de peso são referenciadas para a consulta de Psicologia da Infância pelos seus elevados níveis de depressão, ansiedade, problemas de comportamento, défice de atenção e hiperatividade e perturbações alimentares.

 

As meninas, em geral, são as que mais sofrem com o excesso de peso e a obesidade. Tal se sucede, porque a nossa sociedade tem como ideologia que “as mulheres sejam magras e alcancem o padrão de corpo perfeito”. Esta pressão leva a que as meninas optem por dietas descontroladas e com base em comportamentos desadequados, e consequentemente conduz ao começo de dois problemas graves:

(1) as perturbações do comportamento alimentar – ingestão compulsiva, a anorexia e a bulimia nervosa;

(2) perturbações de humor – ansiedade e depressão.

 

Além das perturbações alimentares, estas crianças, muitas vezes, sentem-se rejeitadas, diferentes e inseguras face à sua autoimagem que automaticamente leva a que desenvolvam padrões alimentares desadequados que estão diretamente ligados às perturbações de ansiedade e depressão. E consequentemente as crianças ansiosas e/ou depressivas terão uma tendência maior a uma ingestão de alimentos pouco nutritivos e extremamente calóricos de forma a compensar o vazio emocional.

Prevenção

A forma como os pais comem influencia a alimentação da criança, sendo que para que a criança tenha uma alimentação saudável é importantíssimo que os pais tenham também estes hábitos.

 

A prevenção tem de começar na gestação, porque uma alimentação incorreta da gestante leva a um aumento da predisposição do bebé a desenvolver um quadro de obesidade na sua infância/adolescência. Ao nascer, o bebê, sempre que possível, deverá ser alimentado com leite materno, dado ser um alimento balanceado e adequado para a fase de vida do recém-nascido até os seis meses de idade.

 

Quando o leite materno é substituído por outros alimentos, os pais devem procurar um pediatra para acompanhar o desenvolvimento do bebé. Mais tarde, quando a criança entra para a creche ou escola, devem também estar atentos ao que a escola dispõe nas suas ementas.

A Psicologia na Obesidade

Sendo que a Obesidade infantil pode também ser potencializada pelas perturbações emocionais e psicológicas, é imprescindível, nestes casos, o pedido de Apoio de Psicologia Infantil, para evitar ou prevenir a evolução da patologia.

 

A intervenção na Obesidade Infantil de forma a prevenir a propagação da doença na idade adulta, passa por envolver mudanças nos comportamentos e no estilo de vida. É desta forma necessário que os profissionais de saúde estudem todos os aspetos ambientais, socioculturais e psicológicos da criança, de forma a ser possível a alteração de hábitos alimentares e físicos da criança.

 

Portanto, após o diagnóstico por Pediatria, juntamente com Nutrição e Psicologia Infantil, irão definir a melhor intervenção de acordo com o perfil e o grau de obesidade na criança. Sendo de salientar que esta intervenção não é exclusiva à criança, mas sim envolve toda a família. Portanto, o primeiro passo é a promoção de uma restruturação da vida familiar da criança obesa através da mudança de hábitos.

 

As intervenções psicológicas através das estratégias comportamentais e cognitivo comportamentais, quando combinadas com dietas e exercício físico, são eficazes na perda de peso. No entanto, nas crianças, as intervenções familiares que envolvem os pais em atividades físicas e de promoção de saúde são mais eficazes no tratamento da obesidade e excesso de peso.

 

É importante realçar que o nosso principal objetivo hoje, enquanto psicólogos e profissionais de saúde, é proporcionar a modificação de comportamentos multifacetados e baseados na família, em que os pais assumem o papel principal da responsabilidade na mudança comportamental.

Referências
Dyson, P. (2010). The therapeutics of lifestyle management on obesity. Diabetes, obesity and metabolism, 12, 941-946
Gatineau, M., & Dent, M. (2011). Obesity and mental health. Oxford: national Obesity observatory
Latzer, Y.,& Stein, D. (2013). A review of the psychological and familial perspective of childhood obesity. Journal of Eating Disorders, 1(7), 1-13
World Health Organization. 2010. Population-based preventation strategies for childhood obesity: report of a Who forum antechnical meeting, Geneva